Na África, os prisioneiros de guerra ou as pessoas oferecidas como pagamento de dívidas chegavam às mãos dos mercadores nativos, eles os levavam ao litoral onde seriam comprados pelos agentes dos traficantes portugueses.
Cerca de 40 % morria antes de chegar ao litoral. Os compradores pagavam com produtos das colônias, café, açúcar, cachaça... além de pólvora e armas de fogo.
Os cativos vinham do Congo, de Angola ou de Moçambique... O negócio tinha seus riscos; por anos pensaram nos riscos dos mercadores, mais os riscos maiores eram para os negros...
Muitos cativos morreriam na travessia do oceano Atlântico, principalmente os de Moçambique já que a viagem durava até oitenta dias e as condições no navio eram horríveis. Apresentavam-se um retrato terrível das misérias humanas. As pessoas estavam apertadas umas às outras, pareciam esqueletos de tão magros e na pele tinham sarna. Estavam acorrentados aos pares, mão com mão, mão direita com mão esquerda, perna com perna, perna direita com perna esquerda... todos um só objeto... se um tinha doença, todos eram jogados ao mar... vivos...
Os escravos eram mercadorias, uma mercadoria frágil, o 15% morria na viagem pelas condições sanitárias, sem falar dos naufrágios...
Posso falar de genocídio sem medo de errar.
Entre os séculos XVI e XIX a África proporcionou cerca de 10 milhões de cativos as Américas... o Brasil recebeu um 40% dessa quantidade. O tráfico de escravos era um negócio imenso que aumentou com a chegada da corte e movimentou milhares de pessoas e muitos navios. Os lucros eram astronômicos. Um escravo se comprava a 70000 reais e se vendia a 240000 reais. Se o negro tinha sobrevivido à varíola valia mais, tinha mais chances de sobreviver. Até pessoas de classe média podiam ter escravos, os preços eram econômicos... as pessoas negras valiam nada...
Ao estado lhe correspondia ao ano o equivalente a uns 18 milhões de reais.
Ao chegar da África, os negros cativos eram depositados em casas e estavam em quarentena com sua cabeça raspada, para engordarem e se tratarem das doenças antes de se vender. Seu destino eram as minas, os engenhos, as lavouras de algodão, café ou tabaco... ou as casas grandes.
Os recém vindos que morreram antes de ser vendidos eram enterrados no cemitério de Pretos Novos; foram encontrados ossos com sinais de cremação e cobertos de cal. Os brancos eram enterrados nas igrejas perto de Deus...
Para comprarem os palpavam igual que a um boi. O negro tinha que caminhar, correr, esticar os braços, as pernas, mostrar a língua, os dentes... Assim, avaliavam sua “qualidade”...
O preço final era o equivalente a um boi, o dois... Na atualidade, como meio carro... Esse preço triplicava a paga original. O negócio movia centenas de navios e milhares de pessoas, os traficantes eram respeitados e recompensados com títulos de nobreza.
Toda pessoa com projeção social tinha negros cativos, os que tinham mais que os necessários, os alugavam ou os fazia participar do ganho. Pelo sistema do ganho, os negros faziam tarefas suplementarias vendendo seu trabalho por um dia ou por horas.
Ao terminar o dia passavam aos donos parte do ganhado e ficavam com uma partezinha, se fosse insuficiente o trazido era castigado. Os castigos incluíam correntes e colares de ferro, troncos com buracos para imobilizar, a máscara de flandres, o chicote.
A punição mais comum era o açoite. Mais como na época não tinham antibióticos a regularam já que as infecções e a gangrena faziam morrer aos negros. Para se evitar as infecções os banhavam com uma mistura de sal vinagre ou pimenta, as feridas ardiam e as torturas continuavam...
Alguns podiam acumular dinheiro do ganho para comprar sua liberdade, outros fugiam para a floresta ou simplesmente ficavam na cidade sem nenhuma proteção.
Nas cidades os donos não castigavam, iam à policia e eles designavam ao Carrasco que executaria o castigo, ele recebia uma paga por fazê-lo. Às vezes o carrasco era um negro supostamente livre...
Os atos mais punidos eram os crimes e as fugas. Ao achá-los, geralmente nos quilombos, os marcarem a primeira vez com uma F (fugido) nas costas sobre o ombro. Na segunda fuga cortavam suas orelhas e na terceira eram condenados à morte.
Ao ser recapturados os valores dos resgates eram negociados com os donos...
Também havia condições especiais para conseguir graças, por exemplo, se o escravo encontrava um diamante. Segundo o valor, tinha recompensa até da liberdade. Os que denunciavam aos donos por contrabando também tinham recebido prêmios.
A liberdade não significava melhoria de vida, em cativeiro tinham seguridade na comida e na saúde, em liberdade ficavam entregues a sua própria sorte. Marginalizados de todas as possibilidades, de todas as proteções, de todas as oportunidades.
A escravatura foi abolida em 1888, depois de 122 anos o problema da marginalidade não se conseguiu resolver.
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